Sinto-me realmente incomodada. De convidada passo a me sentir como um pássaro que acabou de cair numa armadilha. Olho em volta. O salão real...
10 - Acampando
- Venha, vou lhe mostrar o seu quarto - chama-me o cavaleiro filho do rei, enquanto me puxa pelo braço. Ele me faz praticamente correr com ele do salão e começamos a subir por uma grande escadaria circular de pedra, ainda me segurando pelo braço.
- Eu não sei se desejo ficar aqui. E que história é essa de ser quem vocês aguardam?
- Ssssss. Fale baixo! Oras, para onde você acha que pode ir? Você já parou pra pensar que está sozinha aqui? Eu, se fosse você, ficaria mais grata.
- Sim, sou grata pela sua defesa. Mas agora basta. - solto-me com força da sua mão e o encaro, já no meio do corredor no primeiro andar do castelo. - E você não me respondeu à minha pergunta. Quem você pensa que eu sou? E aquela história de batalha, ordem?
- Tudo no seu tempo, minha amiga. Aqui, eis seu quarto.
Ele força uma pesada porta de madeira, que range ao abrir. O quarto tem mobília simples e rústica formado por uma larga e robusta cama de madeira com lençois brancos, um criado mudo simples com uma vela sobre ele e um balcão ao lado da porta. No extremo do quarto, em frente à porta, uma enorme janela portege a vista com uma cortina de algodão cru. Apesar do ambiente espartano, é tudo muito confortável.
- Obrigada. Por nada. Logo, logo será noite e temos muito o que conversar ainda. Fique à vontade. Só não vá muito longe - o cavaleiro se despede e sai tão rápido quanto quando me encontrou. Cruzo o quarto em direção à janela.
Da janela avisto outro cavaleiro, no caminho que dá para o castelo. Ele caminha lendo em direção ao castelo e sua armadura parece ainda mais truculenta que a do filho do rei. Sinto desejo de encontrá-lo.
Desço a escadaria com cuidado e sigo até a entrada do castelo. Ninguém me intervém e encontro com este novo cavaleiro que está descendo do seu cavalo. De perto, este cavalo me parece muito mais forte que o outro no qual vim. Será um animal de tração? Espero o cavaleiro parar para ter com ele.
- Quem é você? É nova aqui. - questiona o cavaleiro
- Sim, acabei de chegar, igual a você. Por isso quis lhe conhecer, eu acho. Ambos recém-chegados. - apelo para a sua cumplicidade.
- Não. Você é novata. Aqui não há nenhuma novidade para mim.
- Que bom. Então talvez você possa me explicar algumas coisas.
O cavaleiro me dá as costas enquanto desencilha o seu cavalo, que parece se sentir aliviado. Ele o prende a uma árvore enquanto carrega grossas bolsas de couro num ombro e a sela no outro.
- Não há nada que eu possa fazer por você. Agora me dê licença. Tenho trabalho a fazer.
O cavaleiro ao meu lado parece contente com a minha presença. - Ele não é um mau sujeito - completa, cúmplice, ainda avisando o barqueiro su...
9 - Sob pressão
O cavaleiro ao meu lado parece contente com a minha presença.
- Ele não é um mau sujeito - completa, cúmplice, ainda avisando o barqueiro sumir no horizonte - Mas ele não gosta de mudanças, tem medo dos riscos. Ainda não entendeu que é impossível evoluir sem mudar as coisas. Mudar faz parte da vida tanto quanto morrer.
Concordo internamente com o jovem de armadura, ao mesmo tempo que me questiono também sobre ele.
- E você, pelo que vive?
- Pelo que vive todo homem de honra: pela justiça. Você, não?
Era uma pergunta quase retórica. Negar seria dizer que não sou honrado/a. Sei que ele está me testando.
- A justiça tem muitos lados. A justiça para uns pode ser injustiça para outros. Depende do lado que se vê.
- Você ainda vê o mundo em partes. Não existe verdades e mentiras aqui. Há uma só verdade. Todo o resto é falso.
O cavaleiro me parecia agora um sujeito um tanto radical. Talvez até inocente ou crente demais.
- Mas não se preocupe, meu amigo - abraçava-me novamente com força o cavaleiro - você terá tempo aqui para descobrir tudo por si mesmo. Convém agora que eu te leve ao nosso Imperador!
Começamos a andar por aquele vilarejo simpático. Meus ex-companheiros de viagem haviam se perdido dentre as pessoas. Por certo encontraram seus destinos. O lugar lembrava um pouco daquelas cidades do interior onde todos se conhecem e onde a vida social ainda gira em torno de uma praça e talvez uma igreja. Mas não havia uma igreja por lá. Menos mal, pensava eu.
- Melhor irmos à cavalo para onde vamos. Fica um pouco distante.
O cavaleiro monta rapidamente em seu cavalo e me estende a mão:
- Espero que você goste de correr.
De fato a viagem foi rápida e logo chegamos a um grande castelo, daqueles medievais. Bem, tudo lá parecia ser mesmo de uma outra era. Reis, cavaleiros, castelos... será que eu havia parado num tipo de conto de fadas?
O cavaleiro tinha acesso a tudo. Devia ser muito influente e importante por lá. Logo fomos conduzidos pelas grandes alas do castelo até um grande salão central. Pela riqueza dos ornamentos, tapetes, mobílias e roupas das pessoas, era certamente o salão real. Eu ia mesmo conhecer o imperador. Será que eu estava devidamente apresentável?
- Meu filho! - bradou alto o imperador - Finalmente! Por onde você esteve? Quem é este com você?
Entendido o salvo conduto do cavaleiro. Agora todos os olhares se voltavam para mim. Me senti um tanto perdido/a.
- Acabou de chegar. Veio se juntar a nós. - fala baixo ao ouvido do imperador - Creio que é quem aguardávamos.
O imperador vem calmamente em minha direção. Olha-me dos pés à cabeça, andando ao meu redor.
- Hum... Não tenho tanta certeza. Mas pode ser. Ande até aquele soldado! - ele ordena - Agora volte! Abra a sua boca! Mostre seus dentes! Deixe-me ver suas mãos! Tire esse casaco!
Não sei se por medo ou pela sua voz de autoridade, obedeço a tudo sem questionar. Começo a ficar um pouco retraído/a, me sentindo invadido/a e diminuído/a. Aquela situação me incomoda profundamente. Obedeço feito uma criança e me revolto comigo mesmo/a. Mas não tenho coragem de abrir a boca.
- Muito bem! - conclui finalmente o imperador após sua longa inspeção - Deixe-o/a ficar por uns tempos. Vamos ver do que ele/ela é feito/a.
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Interpretação:
O Arcano do Imperador invertido revela a probabilidade de você ter que se sujeitar, hoje, à pressão de algum tipo de "autoridade", seja ela interna, por força de situações que você precisa fazer, seja externa, na forma de chefes, patrões, pais ou clientes.
Em qualquer dos casos, você sentirá que não poderá fugir muito ao seu dever. Hoje você precisará, mais do que nunca, de ordem, disciplina e obediência às regras, se quiser ter um bom dia.
Acontece, porém, que talvez, pela inversão deste Arcano, você não se sinta feliz por isso.
Muitas vezes fazemos o que fazemos na vida como funcionários/as, filhos/as, maridos/esposas (ou seja lá que papel você desempenhe), não por amor. Mas por puro dever. Trabalhamos porque precisamos de dinheiro. Somos fiéis para manter o casamento. Bons filhos por obrigação. E assim vamos tocando porque não temos coragem de expressar o que verdadeiramente sentimos. Sabemos, no fundo, das consequências de uma possível rebeldia. E não queremos pagar o preço. Covardia? Talvez um pouco de inteligência, isso, sim.
Há sistemas maiores sobre nós e, nele, coisas que podemos mudar, outras não. Certas leis são imutáveis e, por mais que discordemos delas, elas regem nossa vida.
Há que se ter dinheiro para sobreviver. Por isso trabalhamos, mesmo executando tarefas que, muitas vezes, não gostamos. Há que se fazer exercícios, comer e dormir direito para ter saúde. Ir ao médico se precisarmos. Seguir prescrições. Assumir as responsabilidades do casamento e respeitar o sentimento dos outros. São regras, leis invisíveis ou bem visíveis, que ordenam e regulamentam a vida.
Vale hoje, com este Arcano, não desafiar o status quo. Mesmo que ele lhe pareça arbitrário, opressor, tirânico ou até sem sentido. Siga, hoje, os velhos lemas: "Quando um burro fala, o outro abaixa as orelhas" ou "Manda quem pode. Obedece quem tem juízo".
Aceite seus limites hoje, apenas. Amanhã é outro dia. Carpe Diem!
O barqueiro segura meu braço com força e definitivamente não gosto da sua postura. - Não é a sua hora - ele repete. - Mas eu sinto que devo....
8 - Pense rápido
O barqueiro segura meu braço com força e definitivamente não gosto da sua postura.
- Não é a sua hora - ele repete.
- Mas eu sinto que devo.
- Não há nada para você aqui. Vamos!
- Qual a pressa?
Começo a desconfiar que o barqueiro me esconde alguma coisa. Ele já ia colocar seu remo contra a mureta do cais quando é impedido por uma espada que pára rapidamente o remo no Ar, com um pequeno talho.
Acima de nós está uma figura imponente vestida com uma armadura brilhante de tempos medievais. Ele tem aquele ar sorridente e um tanto arrogante dos grandes guerreiros. Nem o vi chegar, de tão rápido que veio. Ao seu lado, um cavalo branco muito bem asseado relincha, impaciente. Ele nos olha desafiador e parece estar em minha defesa.
- Se ele/ela quer vir, deixe que venha! - determina o cavaleiro. Sinto-me meio que uma dama sendo defendida.
- você sabe o que isso significa - diz o barqueiro para o cavaleiro, olhando-o fixo nos olhos. Serão velhos inimigos?
- a escolha não é sua - responde com sagacidade o cavaleiro.
Mais uma vez estou numa dividida. Como posso escolher se não sei das consequências?
- O que acontece se eu ficar? - Pergunto afinal.
Barqueiro e cavaleiro continuam se olhando fixamente. Quase posso sentir um fio de fogo os ligando pelos olhos.
- você se perderá- diz o barqueiro.
- você se encontrará- retruca o cavaleiro.
Ah, claro. Ficou bem mais fácil agora decidir. Algumas pessoas se aproximam, curiosas com a rixa. Não quero aquela atenção e resolvo rápido.
- Eu vou descer
- Muito bem! - Sorri alegre, com ar de vitória, o cavaleiro, enquanto baixa e embainha a sua espada. O barqueiro retira o seu remo, vencido, mas sem demostrar muita frustração.
O cavaleiro me estende a mão e saio do barco, pisando na pedras irregulares da praça. É bom me sentir em terra firme de novo. Vejo o barqueiro dar de ombros e se afastar sem nem me olhar, balançando a cabeça negativamente. Que sujeito susudo.
O cavaleiro se põe ao meu lado acompanhando o barco diminuindo no horizonte e bate com sua mão pesada em meu ombro.
- ótimo! Você agora faz parte da minha Ordem. Há uma grande batalha para onde vamos. Mas não se preocupe. Irei protegê-lo.
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Interpretação:
A carta de ontem (Cavaleiro de Espadas) significava um dia em que você precisaria pensar e agir rápido - aqui foi tão isso que nem consegui fazer a carta do dia! Também poderia significar a chegada de alguém que lhe forçaria a uma escolha rápida ou a acelerar o rumo das coisas.
Certamente sua segunda-feira pode ter passado voando e, se você conseguiu fazer ou não tudo que precisava, dependeu muito da velocidade com que você a enfrentou. Se conseguiu pôr as ideias em ordem e ser prático/a, com certeza seu dia rendeu. Dias com cavaleiros de Espadas tendem a ser corridos, mas bem energéticos e estimulantes. Se não conseguiu, pode ter se sentido ansioso/a e irritado/a - efeito rebote desse impaciente cavaleiro!
Hoje, porém, com a saída do Ás de Copas, a energia é bem diferente. Pode ser que hoje você se sinta convidado/a a participar de algo importante. Uma reunião? Uma proposta comercial? Um convite amoroso? Todas estas podem ser manifestações deste Arcano. O certo é que esta "taça" que lhe é oferecida ou que você oferece traz um grande contentamento.
Ao aceitar uma oferta hoje, tenha certeza que você trará uma grande alegria aos seus. Sua generosidade será recompensada. A generosidade dos outros pode trazer também um grande alívio ou alegria para você.
Esteja aberto/a, portanto, para dar e receber apoio, ajuda, amizade, benefícios. Deixe o seu coração transbordar de amor e sinta a alegria de saber que fez bem a alguém. Muitas vezes, é na demonstração de fé e confiança que pode se iniciar uma grande amizade.
Contar com os amigos hoje e, eles, com a sua amizade, seja no seu meio pessoal ou no profissional, pode ser a sua maior alegria neste dia. Carpe Diem!
Assumo o pequeno barco junto com o barqueiro e saímos daquele cais com um empurrão forte do remo contra a pequena encosta de onde estávamos....
7 - Cidade natal
Assumo o pequeno barco junto com o barqueiro e saímos daquele cais com um empurrão forte do remo contra a pequena encosta de onde estávamos. Não faço a mínima ideia do nosso destino. Também não imagino porque a mãe e a criança seguem conosco.
O barqueiro me deixa guiar o barquinho e, por instinto, sigo a mesma direção das outras embarcações. Estamos indo para o Sul. À medida que avançamos, sinto o clima esfriar. A criança se aconchega em sua mãe para se aquecer e a cena me enternece o coração. O barqueiro, prático e atento ao mar e à viagem, parece não se importar muito com nada. Sua idade avançada me faz pensar em quantas vezes ele já deve ter feito aquele trajeto. Sinto-me útil por ajudar ao mesmo tempo me questionando sobre o porquê daquele barco diferente, de estarmos os 4 nele, para onde estamos indo. Minha cabeça meio que está em parafuso e meus pensamentos são interrompidos pelo barqueiro. Uma neblina nos cega um pouco a visão.
- Quanto mais você se pergunta, mais difícil fica a viagem.
- Mas como ficar tranquilo/a se não sei pra onde vamos? Não sei nem o que faço aqui. Não conheço essas pessoas. Eles estão em busca do mesmo que eu?
- Não.
- Como você sabe?
- Experiência.
O mar vai ficando mais revolto e o barco balança um pouco. Sinto que nos afastamos dos outros barcos.
- Melhor você se acalmar - ele me diz. - Vai demorar mais assim.
Tento relaxar e não pensar tanto. Respiro fundo e presto atenção ao remo cortando as águas e nas ondinhas que faz. Aquela imagem me acalma.
Navegamos por um par de horas, talvez, quando finalmente avisto uma margem. Parece a praça de um pequeno vilarejo, com algumas pessoas transitando sem pressa. O clima é bucólico. Há casas antigas de pedra, como castelos. Crianças brincam na rua com seus cães. Comerciantes parecem negociar numa feira. Muitas pessoas sentadas em bancos, sorridentes e distraídas com amenidades. O barqueiro assente para mim, apontando com a cabeça para a mãe e a criança, nada falando.
Nos dirigimos para lá e somos recebidos por um velho senhor idoso, que acena e abre os braços para a pequena família. Parece que os esperava.
Atracamos e a mãe estende seu filho para o velho que pega a criança no colo, sorrindo. A mãe também desce e se encaminha em direção a um homem ao fundo, que a abraça e beija. É um reencontro feliz. Está tudo, parece, em harmonia. Há uma mesa farta numa das casas e o clima de festa de família toma conta do lugar. Sinto-me muito bem com a cena e, convidado/a a me juntar ao grupo, movimento-me para também descer.. O barqueiro me segura pelo braço.
- É a sua família, sim. Mas não está na sua hora.
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Interpretação:
O Arcano do 10 de Ouros fala de legados, heranças materiais e genéticas e da nossa terra natal.
É importante que hoje você pare para refletir sobre o papel que desempenha na sua família para a sua evolução. Como você tem ajudado os seus no seu destino? Você tem favorecido o caminho dos seus ou tem atrapalhado o seu desenvolvimento com pensamentos ruins e hostilidades?
Todos estamos juntos no mesmo barco, dividimos o mesmo padrão genético e seguiremos também ao mesmo destino final. Vale, hoje, baixar a guarda com relação a críticas inúteis e a julgamentos desnecessários sobre o estilo de vida de cada um. Todos buscamos a felicidade e cada um vai encontrá-la no seu tempo, do seu jeito, conforme o seu nível evolutivo.
Para uns, a felicidade é estar em casa com os seus, numa vida simples, cuidando dos filhos e netos. Para outros, no amor erótico. Outros, encontrarão felicidade na riqueza material. Para outros ainda, nas aventuras infantis e para outros até na satisfação dos seus instintos animais.
É importante, com este Arcano, estar em paz com cada um dos nossos membros, os aceitando do jeito que são, com seus valores e vivências. Fazemos parte desta família, nos identificando com ela ou não. Mas é importante que não estacionemos nela.
Se ainda não está na nossa hora de nos juntarmos aos nossos antepassados, nossa missão é ajudar os nossos a encontrar cada qual o seu destino, aceitarmos ajuda se precisarmos, mas continuar a nossa jornada individual.
Nascemos de uma família, mas chega uma hora que precisamos nos desapegar, seja de mãe, pai ou filhos, para evoluir. Nosso barco precisa ficar mais leve, sem carregar apegos, culpa, tristeza ou arrependimento do que já passou. Sigamos felizes. Carpe Diem!
Estou já caminhando por este mundo há um bocado de tempo. Não tenho a noção da hora, posto que, aqui, não há dia ou noite. A moeda ganha est...
6 - Tudo passa...
Acordo sobressaltado/a com um alvoroço de batidas de sinos e alguém gritando.
- todos a bordo! A bordo! Todos a bordo!!
Há uma fila quase infinita dessas pessoas. Não me vejo fazendo parte desse grupo. Resolvo só ficar à beira do cais, olhando o movimento.
Ao meu lado também param uma mãe com uma criança. A mãe parece triste, está muito quieta. A criança está distraída com todo o movimento. Vejo se destacar um barco dos outros gigantes. Este é bem menor e é conduzido calmamente por um senhor magro e forte. Com o apoio de um grande remo, ele manobra a pequena embarcação com a destreza de quem conhece aquele mar como a palma de sua mão. Estranho, está se desviando da rota dos outros barcos. Está vindo em nossa direção.
Finalmente o pequeno barco pára ao nosso lado. Ele estende a mão à mulher, que desce e se senta no banco que atravessa o barco, sem nada dizer. A criança pula ao meu lado, entusiasmada. Com a ajuda do barqueiro, entra e se senta ao lado de sua mãe.
O barqueiro me olha, parece me estranhar. Eu não sei o que fazer. A criança então se vira para mim, sorri abre a sua boca e põe a língua para fora. Há uma moeda sobre sua língua. A moeda de ouro! Pego-a do meu bolso e a entrego ao barqueiro. Ele olha espantado para a moeda e para mim. Acena com a cabeça e me estende sua pá. Parece que vou conduzir o barco com ele.
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Interpretação:
O Seis de Espadas revela hoje a necessidade de se afastar de situações de conflito que, talvez, sejam de ordem familiar ou do seu passado. Há emoções fortes vindo de pessoas com quem você viveu que precisam ser deixadas para trás. Você pode estar um tanto nostálgico/a com lembranças de outros tempos. Talvez ainda ressentido/a, preocupado/a ou culpado/a por eles ou pelo que você fez ou deixou de fazer no passado.
É hora, com este Arcano, de fazer um ajuste de contas com este passado, para que você possa seguir com sua vida.
Muitas vezes este ajuste pode se dar com um perdão de dívidas cármicas. Noutras, com o seu pagamento literal, em espécie ($). Assim como, no outro mundo, nosso barqueiro das almas aceita dinheiro para os traslados, aqui também a moeda de troca pode ser o seu dinheiro.
A pergunta é: quanto vale cada aprendizado em nossas vidas? Quanto vale para nós o perdão de uma dívida com alguém? Muitas vezes não estamos sabendo valorizar os aprendizados, o que custa o sofrimento dos outros. Então o "barqueiro" entra e nos cobra em dinheiro mesmo. Vamos perdendo nossa poupança e nossas posses até finalmente nos entregarmos e pedirmos perdão. Estar de joelhos é um gesto de humildade, mas também de redenção e alívio.
Com o Seis de Espadas, hoje, a pedida é se afastar um pouco das emoções do seu passado e colocar em mente que você precisa resolver suas dívidas com os outros para seguir leve em direção ao seu futuro. Pense sobre o que vem prendendo a sua evolução e decida de que lado você quer ficar. Dos que lamentam e esperam a morte chegar... ou dos que fazem algo para mudar.
O leme da sua vida está em suas mãos. Carpe Diem!
Avanço por este mundo desconhecido me sentindo curioso/a como uma criança. Tudo é novo aqui, tudo é descoberta. Me sinto estranhamente vuln...
5 - Hora de se cuidar
Avanço por este mundo desconhecido me sentindo curioso/a como uma criança. Tudo é novo aqui, tudo é descoberta. Me sinto estranhamente vulnerável. Talvez lá fora essa sensação fosse desagradável. Vivemos nos protegendo de tudo. Aqui sinto que sou eu mesmo/a e... está tudo bem.
Avisto ao longe um trono de pedra no meio do que parece uma clareira num bosque florido. Um bosque aqui no fundo do mar? "Esqueça a lógica" me digo. Me aproximo. Há um movimento por lá. Uma mulher em longas vestes vermelhas, cabelos longos castanhos, pele clara um pouco bronzeada de sol. Ela se move suavemente, mas com agilidade. É tudo muito bonito e bem cuidado por lá. Está cuidando das plantas. Há também animais perto dela, parreiras de uvas, árvores frutíferas. Ela usa uma coroa, parece ser seu reino. Há um cheirinho de doce no ar.
- olá. Tudo bem? - pergunto.
- olá! Que bom que você veio! Está com fome? Sede?
- não... - sou interrompido/a.
- sente-se. Vou lhe servir um chá de amoras com uns biscoitos de aveia que acabei de fazer. Estão deliciosos! Pode sentar onde quiser, só não no meu lugar. - me sorri um pouco severa.
Noto que a sua amabilidade e hospitalidade parecem ser bastante regradas.
- não vou me demorar. Estou em busca de algo. Uma estrela - explico. Ela parece mudar sua feição calorosa.
- que estrela? Você vem até minha casa, serve-se da minha comida, das coisas que eu tenho e quer me roubar? Sabe o quanto demora criar tudo isto aqui? O quanto demora até uma árvore dar frutos?
- não, não quero lhe... - sou interrompido/a de novo
- não me interrompa! ... Agora pode falar.
- eu não quero lhe roubar, não. Nem sei onde está minha estrela. Se estiver com você, está tudo bem.
Ela me olha desconfiada mas também um pouco compadecida.
- Bem... na verdade eu tenho muitas estrelas. Mais do que preciso. Você pode ficar com uma delas.
- Mesmo? - respondo feliz
- Mas só se você se comportar. Tome todo o seu chá e coma os seus biscoitos que vou lá buscar. Quero ver esse prato limpinho, viu? - ela me responde orgulhosa da ordem. Me lembra a minha mãe.. aliás, ela me faz me sentir meio criança pelo jeito que me trata.
Ela sai enquanto me vigia obedecendo-a e volta com algo brilhante carregado nas suas saias, que faz de cesto. Ela vem sorrindo.
- adivinha o que tem aquiiii? - sua voz soa agora como aquelas que a gente usa quando fala com bebês. Resolvo entrar na brincadeira
- um sapo? Um avião? Uma flor? - ela vai negando e rindo. Realmente parece se divertir.
- ah, já sei! Uma estrela? - brinco como se estivesse descobrindo presentes numa noite de Natal.
Ela me sorri de volta e revela a sua estrela: uma grande moeda dourada com um pentagrama entalhado ao centro. É uma moeda realmente linda, parecendo de ouro. Imagino que seja cara. Mas sei que não é a minha estrela.
Tento disfarçar minha frustração, mas acho que ela nota.
- não é maravilhosa? É de ouro, vale muito! Veja, tem um estrela desenhada no centro! Bem feita, não? Nem devia lhe dar, mas... bem, eu gosto de mimar as pessoas. Sou tão afortunada!
Eu tento disfarçar minha frustração e não sei bem o que lhe dizer. Vejo que, para ela, parece ser mesmo um presente de tanto valor que ninguém seria capaz de recusar. Resolvo aceitar.
- puxa, obrigado/a. De fato eu não mereço...
- pode ser. Mas você pode precisar. Todo mundo precisa de dinheiro! Dinheiro é que move o mundo! Sem dinheiro, você não é nada!
Começo a sentir vontade de me afastar daquela rainha. Por baixo da sua generosidade, sinto um certo medo e um pouco de raiva. Ela é um tanto preconceituosa, sinto. Agradeço o presente e toda a sua generosidade, mas aviso que preciso seguir viagem. Ela não gosta muito da minha saída, mas lembra que também tem muito trabalho, que precisa arrumar toda a bagunça que ficou na cozinha, dar comida aos animais, molhar as plantas... e me deixa ir. Saio um pouco aliviado/a. Tenho a sensação que, se ficasse mais por lá, enlouqueceria.
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Interpretação:
O encontro com a Rainha de Ouros pode revelar que você, hoje, pode estar voltado/a à satisfação de seus desejos físicos. Comer bem, beber, mexer o corpo, estar na natureza, fazer coisas úteis podem ser prazeres muito agradáveis ao seu corpo físico e às sensações de deleite que lhe causam. Num feriado, pode ser a pedida mesmo!
Num outro sentido, essa Rainha pode também revelar o encontro com uma pessoa assim, voltada aos prazeres do corpo e do que o dinheiro pode pagar. Pessoas normalmente do elemento Terra, voltadas ao trabalho, sustento, corpo e à acumulação de dinheiro. Para elas, nada é mais importante que a segurança que o dinheiro representa. Este é o seu mundo.
Como mensagem, este Arcano aconselha você hoje a cuidar da sua saúde e beleza, se alimentar bem, beber líquidos, descansar ou fazer atividades que lhe dão prazer físico. É tempo de cuidar de si e da sua casa. Atenha-se às coisas práticas. Se precisar aproveitar para fazer aquele conserto que vem adiando, que tal aproveitar o dia? Se é descanso o que lhe falta, dê-se ao direito. O que é certo, com essa Rainha, é que pensar demais ou ficar muito nas emoções e em atividades exaustivas/criativas, não é a pedida do dia. Hoje, atenha-se às necessidades do corpo, ao físico, ao material.
Lembre-se do que sua mãe lhe dizia. Saia agasalhado/a, coma direito, durma bem, faça exercícios moderados. A fórmula da saúde, afinal, até sua avó sabia. É tempo de ser uma boa criança. Carpe Diem! ;)
Estou com minhas amigas, rindo, me divertindo e bebendo. Apesar da pausa mais que bem-vinda, lembro, porém, que preciso avançar na minha jor...
4 - Reconhecendo os instrumentos que tem
Estou com minhas amigas, rindo, me divertindo e bebendo. Apesar da pausa mais que bem-vinda, lembro, porém, que preciso avançar na minha jornada.
- gente, obrigado/a por tudo, mas preciso ir
- já vai? Vai pra onde?
- preciso ir. Quero encontrar a minha Estrela - confesso quase envergonhado/a
- ah, sei. E quem não quer? Mas como você espera passar por Heimdall?
- quem?
- Heimdall, o guardião que divide os nossos mundos. Você não o viu? Ele está sempre em guarda. Nada passa por ele.
- não sabia quem ele era. O vi, sim. Mas ele sumiu quando vocês apareceram.
As três sereias amigas não disfarçaram: caíram na gargalhada com a minha ingenuidade. Elas conheciam bem aquele mundo e, claro, eu nada sabia de portais, guardiões, mundos e submundos... achava que seria apenas querer, seguir o coração como o Eremita falou, e achar a Estrela.
- o cara não dorme nunca. - Falou uma das três
- ele ouve e vê tudo. Nunca sai de vigia. Aposto que pode repetir tudo que a gente disse aqui, palavra por palavra. Ele não é como nós.
Eu só pensava... no que foi que eu me meti. Meus pensamentos foram logo interrompidos com uma fagulha de esperança.
- só tem um jeito dele deixar você entrar. - A sereia então pega sua taça, enche-a até a borda e a estende para mim. - Dê a ele.
No instante que eu tomei a taça em minhas mãos, pluft, as sereias desapareceram. E bem atrás de mim aparece estancado novamente o tal do porteiro guardião.
No instante que me viro e que ele novamente já se armava defensivamente, para ao me ver com a taça.
- você aceita? - pergunto vacilante.
Ele apenas ri com seus dentes de ouro e me olha nos olhos. Parece que agora eu tinha o seu consentimento.
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Interpretação:
O Arcano do 9 de Paus novamente hoje nos faz lembrar dos nossos objetivos. Nos lembra que, se queremos concluir algo, não podemos nos distrair demais. Foco na tarefa! Você pode se dar o tempo que necessita de descanso, mas só até retomar as forças. Se está em busca de algo, precisa se empenhar nessa missão, mesmo que sinta que já quase não tem mais forças.
Neste sentido, é bom que você perceba hoje, com este movimento, o quanto ainda é forte e determinado/a. Por mais difícil que seja a sua jornada, por mais pesado que seja o trabalho em que está empenhado/a a cumprir (seja num emprego, na busca de trabalho, conclusão de um projeto, terminando uma casa, etc), você tem o que precisa pra chegar lá.
Encontrar o 9 de Paus, hoje, é também um sinal de confiança: não duvide de si, do seu potencial, nem da força dos seus parceiros. Às vezes, até delegar a saída de uma situação difícil a outros, também pode ser uma solução. Nem tudo precisa ficar nas suas costas!
Aceite as facilidades que podem estar hoje à sua mão e conclua o que veio fazer. Não são os mais preparados e fortes que vencem. São os mais ousados! Carpe Diem!
E então, com o caminho bloqueado pelo 9 de Paus que não me permite avanço visto que vim completamente desarmado/a, parece que nada mais me r...
3 - Bor-bulhas de amor
E então, com o caminho bloqueado pelo 9 de Paus que não me permite avanço visto que vim completamente desarmado/a, parece que nada mais me resta a não ser sentar e lamentar. "Parece mesmo que foi tudo em vão! Os sonhos morrendo na praia!"
Mas eis que neste momento me lembro do conselho do Eremita. Fico quieto/a, fecho meus olhos, silencio a mente e paro para ouvir meu coração. Batidas tão ritmadas, tão marciais. No começo, o som das bulhas se parecem com a marcação surda de um relógio. Tum-tum, 1 segundo. Tum-tum, 2 segundos, tum-tum, 3 segundos... Não quero pensar nisso, no tempo que me resta, em cada minuto que vai de vida enquanto me sinto impotente diante das coisas. Tum-tum. Mas a ideia do relógio me persegue. Tum-tum, menos um momento. Tum-tum, menos outro...
A ideia da perda de tempo me domina. Tum-tum. Ok, começo a parar de resistir a esse pensamento. Tum-tum. Entro na brincadeira e me provoco a lembrar de cada "tempo perdido". Tum-tum, aquela vez que fiquei sem trabalho. Tum-tum, a outra que deixei de estudar. Tum-tum, até que não foi assim tão em vão. Tum-tum. Houveram tantos momentos felizes, tantos amigos... tum-tum, tum-tum, tum-tum... ops, o coração está batendo diferente!
Abro os olhos e quase não acredito no que vejo. 3 sereias rindo e se divertindo, cantando e me chamando para me juntar a elas.
Para onde foi o porteiro? Tudo aqui muda tão depressa! Parece um sonho. Uma miragem? Todo mundo diz que o canto da sereia é perigoso, que não devemos ir. Oh, mas é tão sedutor... e é tão reconfortante um tempo de prazer nessa busca!
Olha, elas se parecem com minhas amigas. Elas são mesmo minhas amigas! Vou até elas, nos abraçamos, brindamos e começamos a rir e a nos lembrar dos bons momentos que passamos juntos.
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Interpretação:
O Arcano do 3 de Copas retrata o desejo e talvez a possibilidade de você hoje "curtir um pouco a vida". Quem sabe levar o trabalho com mais leveza, fazer um happy hour, convidar ou ser convidado pra uma saideira... A ideia, com este Arcano, é que você se conecte mais com as suas emoções e com as pessoas que ama para lembrar que a vida não é só trabalho, dinheiro, contas, limites. A vida não é uma guerra que precisa ser vencida. O que significa "vencer na vida", afinal?
Aproveite o seu tempo enquanto pode. Divirta-se. Se a agenda está cheia, faça-a mais leve com música, um chá, uma parada para movimentar o corpo de vez em quando.
Se der, que tal incluir a ligação para um/a amigo entre as muitas do seu trabalho? Ligar só pra dizer que gosta de alguém ou fazer uma piada pode produzir um efeito inebriante que durará o dia inteiro! Carpe Diem!
Agora valorizando o silêncio e a solidão do fundo do mar, escutando meu coração, continuo a minha busca pela Estrela. A luz da lamparina do...
2 - Preparado/a para lutar?
A luz da lamparina do Eremita me faz enxergar o que andei depositando neste mar. Sinto-me como explorador/a de um "museu subaquático", pronto/a para descobrir as maravilhas das minha própria criação!
A primeira figura que encontro, porém, é a do que parece um ex combatente de guerra. Um veterano, ferido, cansado, em posição de defesa. Ele guarda uma cerca que ele mesmo armou de 8 estacas firmemente presas ao chão. A nona estaca aponta em minha direção.
- Alto lá! Daqui ninguém passa. Este território é meu. Fui eu quem conquistei, são minhas terras, minha propriedade! - grita ameaçador o porteiro daquela cerca de paus.
Assusto-me com a proibição. Achava que o mar era uma zona neutra, que bastaria o meu desejo para desbravá-lo. Sinto-me irritado/a com este "guardião". Nada fiz, estou desarmado/a, só quero a minha estrela. Agora então terei que lutar para conquistá-la? Ela não é minha por direito? Paro diante dele, enquanto ele me fita nos olhos, imóvel, rígido, com o bastão atravessado, impedindo a minha passagem.
Ele não vai me deixar passar sem resistência.
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Interpretação:
Assim o é quando estamos diante de situações que queremos mudar. Estamos determinados, empenhados no processo. Porém, quando encontramos os primeiros desafios, descobrimos atônitos que não estávamos preparados para lutar. Achávamos, no fundo, que seria fácil. Que o fluxo natural iria nos levar para onde precisávamos ir. Não foi assim até agora? Bastava querer, falar a todos da mudança e aguardar os abraços calorosos, tapinhas nas costas e a nova vida. Mas não. Os desafios nos desanimam, nos desencorajam. Descobrimos que não estávamos prontos. Não temos armas para lidar com a resistência do mundo. E ficamos pensando "se eu tivesse me preparado mais, se eu não tivesse feito isso ou aquilo... Por que, afinal, não deixei tudo como estava? Por que me meti nessa loucura de mudar de vida? Quem eu acho que sou? Sim, só eu mesmo/a para achar que poderia encontrar minha estrela!"
Com o 9 de Paus, prepare-se, portanto, para lidar com suas próprias resistências para concluir suas tarefas. Talvez você se sinta fraco/a, com dores de cabeça, cansado/a, despreparado/a. A energia está no seu pico, como se você estivesse a ponto de entrar em combustão. Assim, para não se estressar muito, vale dosar esta energia.
A pedida então é ter calma, prudência, fortalecer o corpo e a mente porque o tempo é de boas batalhas.
Perceba também que os obstáculos que encontrar agora são tão maiores quanto maiores as suas próprias crenças limitantes. Assim, vale dar uma revisada no que você anda acreditando antes de entrar em qualquer luta. Tenha fé, resiliência e coragem. Você consegue!
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